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domingo, 3 de abril de 2011

Igreja transfere padre que defende uso da camisinha.

Igreja não comenta transferência para a Itália nem a solicitação para retirada de um abrigo da paróquia.

Defensor público do uso da camisinha, o padre Valeriano Paitoni, 61, está sendo obrigado a voltar para Itália após receber ordem de seus superiores na Igreja Católica.

Há 33 anos na zona norte de São Paulo, o padre ganhou notoriedade em 2000 quando passou a defender a utilização de preservativos como forma de combater o vírus da Aids -opondo-se às orientações do Vaticano.

Esse posicionamento público -que ainda defende- causou irritação em parte da cúpula da igreja em SP.

A transferência ameaça parte da obra mantida por ele: três abrigos para crianças e jovens contaminados com o vírus da Aids.

No início do ano, o religioso diz ter sido comunicado por sua congregação -Instituto Missões Consolata- de que havia sido designado para uma missão na Itália.

Após reações negativas da comunidade, o coordenador do Instituto no Brasil convocou uma reunião para a última quinta-feira com a comunidade. No encontro, porém, a decisão foi reafirmada.

Quase simultaneamente, a Arquidiocese de São Paulo, dona do imóvel onde estão a paróquia Nossa Senhora de Fátima do Imirim (Paitoni é padre ajudante) e de um dos abrigos (a Casa Siloé), anunciou que este teria de deixar o local, conforme contrato.

"Não me deram motivos válidos [para que a casa saia do espaço]. Se eles tivessem uma finalidade para o local, eu seria o primeiro a procurar outro espaço", afirma.

Segundo fiéis, a arquidiocese argumenta que um projeto social mantido por uma entidade não pode ocupar o espaço da paróquia.
Os motivos dados pela igreja, porém, não convencem o padre e os fiéis.

Para eles, as decisões seriam uma espécie de retaliação da instituição.

"A maioria já perdeu os pais. Sei que a norma do instituto prevê transferências, mas a Igreja não pode colocar a regra acima da pessoa e do diálogo", diz o religioso.

CRIANÇAS

Os irmãos Paula e Tiago (nomes fictícios), de 11 e 13 anos, chegaram na Casa Siloé quando ainda eram bebês. Contaminados na gestação, perderam a mãe e foram abandonados pelo pai.

Na casa de apoio, dizem ter encontrado uma família. O local mal parece um abrigo. Tem quartos para no máximo três crianças. Há videogame, TV e computador. "São as tias que cuidam da gente e o padre [que a gente mais gosta]. É como se fosse um pai para mim", diz Tiago.

Arquidiocese não comenta a transferência

Procurado pela reportagem desde a noite de anteontem, o padre Lírio Girardi, coordenador do Instituto Missões Consolata no Brasil, não foi localizado.

De acordo com fiéis, a entidade argumenta que a transferência de padres para missões em outras localidades está prevista nas normas do próprio instituto.

A reportagem também procurou a Arquidiocese de São Paulo e a questionou sobre a decisão da Igreja Católica em pedir a saída da Casa Siloé, que atende a crianças com o vírus HIV, da paróquia Nossa Senhora de Fátima do Imirim.

Até a conclusão desta edição, porém, a Cúria não havia respondido aos questionamentos feitos pela reportagem.

À comunidade que frequenta a paróquia e conhece o trabalho social, a arquidiocese teria afirmado que a casa de apoio não poderia permanecer no espaço da paróquia por ser ligada a uma entidade filantrópica.

Fonte: Folha de São Paulo

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