Na noite de domingo (21), no assentamento Califórnia, a 10 km de Açailândia (MA), Elizete degolou Jonas, 5, o caçula. O assentamento tem 13 anos e é administrado pelo MST. Açailândia tem cerca de 100 mil habitantes e fica a 600 km de São Luis.
“Eu premeditei”, disse Elizete.
Ela esperou o filho dormir, rezou de joelhos para Deus e o diabo e passou uma faca de cozinha no pescoço Jonas. “Ele abriu os olhos e aí um pus mais força (na faca) para que não sofresse.”
A polícia ficou sabendo da morte do menino pelo agente funerário ao qual a família de Elizete tinha encomendado um caixão.
Elizete disse que na verdade teria de matar um vizinho que, entre outros, debochava dela quando ela pregava a palavra de Deus. Falou que, por isso, estava deprimida e triste e que se arrependeu de ter matado Jonas.
Ela cresceu em uma família evangélica. O seu vocabulário é repleto de palavras vindas de pregação de pastor. Além de Deus, ela falou na entrevista, por exemplo, em “inimigo” e “obra do diabo”.
Desde Freud se estuda as conexões entre as diversas formas de transtornos mentais e a religião.
Essas implicações são tão vastas, que o médico psiquiatra Francisco Lotufo Neto teve de delimitá-las na tese de livre-docência que apresentou em 1997 à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Para estudar a prevalência de transtornos mentais entre pastores evangélicos, ele separou as religiões tidas como saudáveis e maduras das consideradas prejudiciais ou patológicas, de acordo com as diferenças do quadro abaixo.
Pelo o estudo, as conversões com raízes patológicas ocorrem nas religiões não saudáveis, conforme um conjunto de características, entre as quais crença intensa e irracional; mais preocupação com a doutrina do que com os princípios éticos e morais; intolerância contra os que “se desviam”; proselitismo intolerante, que aliena em vez de atrair outros; e necessidade de martírio para provar a devoção.
O estudo incluiu uma pesquisa que obteve 207 retornos de um formulário enviado pelo correio a pastores. Do total dos participantes, 40 foram convidados para uma entrevista em uma escolha que se deu por sorteio.
A prevalência de transtornos mentais no mês que precedeu a entrevista foi de 12,5%. Esse percentual sobe para 47% quando foi considerado todo o período de vida dos participantes. Os principais diagnósticos foram: transtornos depressivos (16,4%), transtornos do sono (12,9%) e transtornos ansiosos (9,4%).
Fonte: Paulopes
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