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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Fábio Marton, ex Assembléia de Deus e hoje ateu, afirma: “Igrejas pentecostais podem parecer seitas”. Confira entrevista completa.


Fábio Marton já foi Pastor, pregou em púlpitos desde pequenos e poderia te tido uma grande carreira como pregador no meio evangélico assim como outros famosos que hoje existem, mas um dia decidiu sair de igrejas que frequentou, como a Assembléia de Deus e Quadrangular, e se tornou ateu, brigando com família e amigos.
O processo de sua desconversão até se tornar ateu é contado no recém lançado livro “Ímpio – O Evangelho de um Ateu” onde tece comentários contra seu antigo pastor e grande parte do meio evangélico em si, além de atacar os ensinamentos da Bíblia e o próprio Jesus Cristo. No livro, publicado pela editora LeYa, o jornalista conta casos em que afirma ter ajudada a expulsar um demônio do corpo de sua própria mãe, subido no telhado para ver o mundo acabar, ido a uma área aberta para ver fogo descendo do céu, entre outros relatos que teriam acontecido por influência de seu aprendizado como evangélico.
Em entrevista ao Gospel+, Fábio Marton rebate perguntas sobre a importância do cristianismo e assuntos atuais como a legalização da união gay, além de relatar um pouco sobre sua descrença em Deus e em religiões. Confira na integra:
Em seu livro você tece intensas críticas ao cristianismo evangélico em si. De uma forma sincera, se tornar ateu foi uma forma de se vingar de tudo que te incomodava no meio que vivia?
Não, foi apenas ser honesto comigo mesmo e com os outros, e assumir o que eu pensava.
Você já declarou em uma entrevista televisiva que é muito difícil provar que Deus realmente não existe. Então você deixou de acreditar na religião e seus representantes ou na existência de Deus?

Deixei de acreditar em Deus. Na religião, eu já não acreditava um pouco antes. Mas isso não tem a ver com “provar” que Deus não existe. A gente não deixa de acreditar nas coisas porque temos provas que não existem. Eu não preciso provar a ninguém que Papai Noel não existe. A gente deixa de acreditar em algo quando não vê mais razões para dizer que aquilo existe.
O seu livro tem as chamadas “páginas negras”. O que seriam essas páginas e porque?
São pensamentos mais gerais a respeito da religião evangélica, mas não só ela. Algumas se aplicam à crença em Deus em geral. A razão de estarem separadas do resto do livro é que meu livro é uma narrativa, não um tratado, como [no livro] “Deus, um Delírio”. Além disso, essas páginas são escritas com aquilo que eu penso hoje, não o que me passava pela cabeça na época narrada no livro. Em alguns casos, eu tinha uma ideia ainda instintiva e mal formada, mas semelhante ao que digo nessas páginas – por exemplo, quando falo que igrejas pentecostais podem parecer seitas. Em outros, é completamentamente novo, como as respostas a filósofos cristãos, que eu não tinha ouvido falar na época.
Você tinha um futuro promissor como pregador estando desde pequeno no púlpito, como simplesmente desceu do altar e foi para a rua viver outra vida?
Não havia qualquer futuro nesse sentido, mesmo se eu quisesse, e não queria. Mesmo antes de me desconverter, eu havia me afastado, desprezava os pastores e os escândalos que todo mundo conhece, e comecei a ter opiniões bastante heterodoxas. Eu não via razão para Deus ter criado desejos naturais em nós e proibir esses mesmos desejos. No final, não acreditava nem mais na Bíblia, que era só mitologia, nem que Jesus fosse mais que um pregador do deserto.
Você veio de uma família evangélica, como foi a reação e o tratamento que lhe deram após sair do cristianismo e agora depois de lançar o livro?
A gente brigou muito no começo, mas depois houve uma trégua. Eu mais ou menos não dizia mais o que pensava, eles mais ou menos não tentavam me converter de novo. Agora, estão meio “de mal” novamente. Exceto quem não é crente na família – esses gostaram muito do livro.
Hoje está na moda o chamado “ateísmo militante”, onde pessoas que não crêem em deuses lutam e divulgam a causa contra a religião. Você é mais um que atentará contra os cristãos, um “Richard Dawkins brasileiro”?
Bem que eu queria ser um biólogo com uma importantíssima contribuição para o estudo da Evolução, que por acaso acabou famoso como miltante ateu. Aí eu seria um “Richard Dawkins brasileiro”. Eu só contei minha história. Mas não tem absolutamente nada de novo em ateus falarem contra a religião – o que existe é a Internet para divulgar isso. Pegue esta frase: “Observe a maioria das nações e a maioria das eras. Examine os princípios religiosos que, de fato, prevaleceram no mundo. Você raramente será persuadido que eles são qualquer coisa além de sonhos de homens doentios”. Isso foi dito por David Hume em 1757. É “neo” ateu o bastante?
Karamazov dizia que se Deus não existisse então tudo seria permitido. Você como ateu, não vê nenhum benefício que a religião pode gerar para a sociedade?
A religião diz coisas moralmente certas. É óbvio que proibir assassinato é uma coisa boa. O problema é que, se numa parte a Bíblia está proibindo assassinatos ou dizendo para amarmos ao próximo como a nós mesmos (algo impossível, mas que ao menos parece bom em princípio), em outra está dizendo que a mulher não tem “cabeça”, mas que sua cabeça é primeiro a do pai, depois do marido. E só estou falando no Novo Testamento, deixando de lado os comandos do Velho Testamento para apedrejar mulheres que mentem sobre a virgindade ou gente que trabalha aos sábados ou crianças que ofendem aos pais. Se tudo o que foi dito no livro é ordem de Deus, como separar as coisas que são boas das que são ruins? Na prática, todos os cristãos já separam – ignorar as leis malucas do Velho Testamento já é fazer isso, ainda que haja uma justificativa teológica um tanto frouxa, porque o Velho Testamento é lido nas igrejas mesmo assim. A Bíblia também não proíbe escravidão nem concubinas escravas, nem poligamia. Se não fazemos essas coisas, e elas são consideradas imorais, é prova que há um coisas além da religião para julgar certo e errado, e essas coisas são aplicadas à própria religião. Se os critérios fora da religião são usados para escolher o que é certo ou errado na própria religião, qual é a utilidade dela como guia moral? O que é certo já é conhecido, independente de a Igreja reforçar isso. Japoneses não precisam dos 10 mandamentos para achar assassinato ruim.
Recentemente o STJ legalizou a união gay e já houve a primeira união civil sendo realizada sob gigantes protestos cristãos. Com evangélicos e ativistas em guerra, qual lado você acha que está certo?
Dos gays, é óbvio. No que interfere em seu casamento ou o valor de sua família o que seu vizinho faz de sua vida privada?
O mais conhecido ateu do mundo atual, Richard Dawkins, prega a censura ao cristianismo, inclusive a proibição de ensinamentos religiosos para as crianças. Você compartilha desta idéia?
De forma alguma. Eu sou contra qualquer tipo de censura, mesmo a “censura do bem”. Se começarmos a patrulhar o que os pais ensinam, vamos ter um totalitarismo doméstico. O que nos impede de proibirmos qualquer ideia “ruim” de ser passada para as crianças. Se religião é abuso infantil, ensinar as crianças uma ideologia de esquerda, em que os pobres não tem vez, não é desencorajá-las de tentar subir na vida, um abuso infantil? Ou ao contrário, ensinar uma ideologia de direita, que o trabalho leva ao sucesso, não é torná-las insensíveis às mazelas sociais, outro abuso infantil? Que tribunal vai julgar o que podem ou não ensinar os pais? A resposta aos preconceitos e loucuras dos pais já existe, e é a educação. Privar uma criança dela – e deturpar o ensino com criacionismo em aulas de biologia – aí sim, é abuso infantil.
Nos Estados Unidos, um país declaradamente cristão, o cristianismo em si está cada vez menor e perdendo poder no governo. No Brasil acontece o inverso, sendo um país declaradamente laico o cristianismo toma cada vez mais força e quantidade numérica. Para você porque esse movimento está acontecendo?
Porque o Brasil é um país ainda tristemente populista. Políticos não se importam em atropelar a constituição, leis, direitos e a própria lógica se isso rende votos.
Na sua opinião porque a maioria das críticas vindas contra seu livro são de ateus e não de cristãos? O que você diz a seus “companheiros” ateus críticos a você?
Para ser sincero, não tive críticas negativas de ateus que leram o livro. Só de gente que resolveu não ler e não gostar.

Fonte: Gospel+

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