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domingo, 26 de dezembro de 2010

Homens que levam Jesus no nome e no coração


“Talvez eu fosse diferente se tivesse outro nome”. A opinião é do comerciante Jesus Alexandre Cavalcante, de 57 anos, comentando que chamar-se Jesus é uma bênção, mas ao mesmo tempo uma responsabilidade muito grande. “Todos nós temos a obrigação de preservar, manter limpo, o próprio nome, mas quando carregamos o nome de Jesus, parece que a responsabilidade é muito maior”, completa o patrulheiro rodoviário aposentado Jesus Custódio Pinto de Carvalho, de 62 anos.
Atualmente há um número razoável de homens e meninos chamados Jesus, mas nem sempre foi assim. No Brasil, a maioria dos Jesus tem menos de 70 anos, já que antes a Igreja Católica queria que todos os nascidos tivessem nomes de santos, mas não aceitava que pecadores carregassem o nome do filho de Deus.
Havia o receio que o nome se vulgarizasse, perdesse a força, além de que as pessoas poderiam cometer atos que desonrassem o nome. A desculpa era que não se devia tomar o nome do Senhor em vão e os fiéis obedeciam, mas partiam para outros nomes que pudessem ter o mesmo significado ou pelo menos aproximado, como Emanuel, Messias e Salvador. Foi por isso que nasceram nomes como Jésus, Jesualdo, Jesuíno, Cristiano ou Cristóvão.
João virou Jesus
Quando Jesus Cavalcante nasceu, há 57 anos, o padre de Dracena, no Estado de São Paulo, não aceitou batizá-lo com esse nome, mesmo sabendo que a escolha feita pelos pais era pagamento de uma promessa.
“Eu nasci muito doente, mas tão doente que minha família estava preparada para o pior”, conta Cavalcante, revelando que sua família chegou a mandar fazer uma caixãozinho para ele – naquele tempo, na roça, os caixões eram feitos em casa, geralmente de madeira de construção.
O resultado é que o menino Jesus que nasceu em Dracena acabou recebendo o nome de João no batistério e só algum tempo depois, quando o pai foi à cidade para registrar os filhos é que a família conseguiu pagar a promessa feita para salvar a vida de Cavalcante e ele passou a ser oficialmente Jesus, Jesus Alexandre, homenageando também outro grande líder da história, que a família não conhecia mas achava o nome bonito.
Na maioria dos casos, meninos chamados Jesus nascem em lares católicos, já que os evangélicos preferem não tornar o nome do Salvador um nome comum e os pentecostais, que até algum tempo atrás nomeavam os filhos com nomes bíblicos, geralmente preferem nomes do Antigo Testamento, com prioridade para os profetas.
Jesus, Maria e José
Um fato que une as crianças batizadas com o nome de Jesus é que todas vêm de famílias de profunda religiosidade, tanto que geralmente os irmãos também têm nomes de santos. É o caso do patrulheiro aposentado Jesus de Carvalho, que tem José e Maria não como pai e mãe, mas como irmãos.
Aliás, José e Maria são irmãos também de Jesus Martins Quadrado, um descendente de espanhóis bastante conhecido na região de Maringá como comerciante de caminhões.
Outro fato que une todos os Jesus é a gozação que tiveram que suportar quando crianças. “Na sala de aula, quando a coisa ficava difícil, sempre vinham ironias do tipo ‘vou ficar perto de Jesus…’, ‘Jesus, peça ao Pai por mim’”, lembra Jesus Tomazini, que foi funcionário da prefeitura, trabalhou em bancos e hoje é um aposentado de 62 anos, cuja maior ocupação é brincar com os netos. Segundo ele, mesmo depois de adulto ainda surgiu alguém fazendo gracinha, mas o normal é que as pessoas tenham respeito pelo nome.
“Se a gente andar certo, não haverá razão para gracejos e assim o nome de Jesus é respeitado”. Foi por isso que, desde a infância vivida em Pereira Barreto, em São Paulo, sempre foi alertado pelos pais para não decepcionar o nome que carregava. “As pessoas não aceitam que um Jesus cometa erros e a gente mesmo adquire essa responsabilidade desde cedo”, disse, enquanto brincava com os netos em sua casa, no Jardim Alvorada.
O Jesus patrulheiro, que chegou a Maringá vindo de Cordisburgo (MG), diz que é muito grato aos pais pela escolha do nome. “Isso mostra a religiosidade deles, que passou para mim e assim levei uma vida bastante controlada”. Segundo ele, o nome que recebeu é muito respeitado e “é uma grande honra carregar um nome tão importante, mas é importante que a gente o leve também no coração”.

Fonte: O Diário / O verbo

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