Durante pouco mais de três décadas, portanto, o filho de Deus foi obrigado a deixar o posto de popstar da indústria. Histórias romanceadas que gravitavam ao seu redor passaram a ser produzidas, principalmente nos anos 1930, 1940 e 1950. Ao retornar à cena principal em 1961, com o lançamento de “Rei dos Reis”, viu-se sujeito a todo tipo de interpretação de sua trajetória.
É o que afirma o historiador Luiz Vadico, que acaba de lançar o livro “Filmes de Cristo – Oito Aproximações” (editora a Lápis). “Desde o casamento com Maria Madalena e outras duas mulheres, e ser pai, até ser esquartejado vivo por Mel Gibson”, diz o professor, referindo-se aos filmes “A Última Tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese, e “A Paixão de Cristo”, de 2004, dirigido pelo famoso ator americano.
Ligado ao grupo de pesquisa sobre religião e sagrado no cinema e no audiovisual do mestrado em comunicação da Universidade Anhembi-Morumbi, Vadico examinou a produção cinematográfica cristológica entre 1895 e 2004 para sua tese de doutorado, defendida na Universidade de Campinas, em 2005. Segundo ele, são 21 os principais filmes sobre a vida de Cristo. Essa espécie de teologia feita pelos diretores de cinema alterou sensivelmente o imaginário das pessoas. “Hoje, o público não possui uma imagem unívoca de quem seja Jesus”, afirma ele. No Brasil, “Maria, Mãe do Filho de Deus”, produzido pelo padre Marcelo Rossi, foi o que mais se aproximou de um filme de Cristo, apesar de não focar especificamente a vida dele. Nessa produção, o Nazareno retratado remete à imagem cultivada pelo brasileiro: a de um povo cordial. “Mostro Jesus dançando e se surpreendendo com suas manifestações divinas. É mais próximo ao homem”, conta o diretor Moacyr Góes. É mais uma das várias interpretações construídas sobre a vida Cristo.
PELAS LENTES DOS DIRETORES
Algumas versões de Jesus Cristo no cinema
AMERICANIZADO
O diretor de “Rei dos Reis”, Nicholas Ray, foi acusado por católicos de criar um Cristo americano. Lançado em 1961, após duas grandes guerras, o embate entre o bem e o mal é personificado por Jesus e Barrabás
ADOLESCENTE
O Cristo retratado por Norman Jewison, em 1973, em “Jesus Cristo Superstar”, se enerva toda vez que alguém discorda dele. Além de egocêntrico, é contrário às vontades de Deus. É a antítese do que os Evangelhos ensinam sobre Jesus
PALHAÇO
Jesus aparece caracterizado de palhaço em “Godspell”. O filme de David Greene, de 1973, varia entre o sério e o ridículo. Mas é inocente e parece ser direcionado ao público infantil
PSICÓTICO
Covarde e indeciso, o Jesus de Martin Scorsese sempre necessita de alguém para ampará-lo. É com esse Cristo, fraco e neurótico, que Maria Madalena se casa em “A Última Tentação de Cristo”, de 1988
CORDEIRO DE DEUS
A imagem do servo sofredor, daquele que suporta a dor e a humilhação para eliminar os pecados do mundo, é explorada em “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, de 2004, e “Gólgota”, assinado por Julien Duvivier, em 1935
Fonte: Isto É / Gospel+
Nenhum comentário:
Postar um comentário