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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"Uma grande parte dos clérigos católicos e aspirantes a padre são homossexuais", diz teólogo

David Berger, teólogo gay que escreveu um livro sobre suas experiências como teólogo sênior da Igreja Católica, falou à Spiegel sobre a homofobia e as tendências de direita da igreja.

Spiegel: Sr. Berger, o senhor descreveu a Igreja Católica como uma organização homofóbica. Por que levou tanto tempo para o senhor, um teólogo homossexual, renunciar à sua posição na igreja?

Berger: Porque uma saída como esta não é uma questão de dias. Mesmo quando eu era criança eu queria ser padre, mas na época que terminei o colégio ficou claro para mim que eu não seria capaz de viver uma vida de celibato.

Spiegel: E você se tornou teólogo assim mesmo?

Berger: Sim, porque a igreja nunca perdeu o encanto para mim. A Missa Trentina era como um vício para mim. Quando eu tinha 17 anos, juntei-me aos Irmãos Pios no sul da Bavária. O que eu vi lá foi um fascinante sonho estético barroco de ouro folheado e rendas de Bruxelas. Eu não conseguia me livrar disso. Só mais tarde ficou claro para mim com o que eu havia me envolvido, e o sonho se transformou cada vez mais num pesadelo.

Spiegel: Por quê?

Berger: Porque minha própria vida, minha vida com meu parceiro, cada vez mais contradizia o que era dito e exigido no ambiente de minha igreja. Apesar de meu entusiasmo pela missa tradicional e pela teologia conservadora, eu me envolvi cada vez mais com as redes católicas conservadoras de jovens aristocratas, industriais e acadêmicos de reputação. Eles condenavam totalmente a homossexualidade.

Spiegel: Como isso se manifestava?

Berger: Eu tive que ouvir muitos pontos de vista desumanos. Por exemplo, Hitler era elogiado por ter internado e matado homossexuais nos campos de concentração. Chegou um ponto em que eu não podia mais ficar em silêncio...

Spiegel: … depois que você e sua carreira haviam se beneficiado tempo suficiente pelo contato com esses círculos de direita.

Berger: Desde o papa Bento 16, no mínimo, você precisa ser anti-moderno para ter uma carreira na Igreja Católica. Eu criticava a teologia relativamente progressista e a política de esquerda da igreja de Karl Rahner. Foi assim que as pessoas me descobriram. Como eu era um especialista no pensador medieval Tomás de Aquino, fui convidado por quase todos os grupos conservadores de direita para dar palestras. Eu tinha contato com os sedevacantistas, a Fraternidade de Padres de São Pedro, a Sociedade para a Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a Una Voce, Opus Dei e os Servos de Jesus e Maria.

Spiegel: O que acontecia nesses encontros?

Berger: Esses grupos são muito cuidadosos com quem eles convidam. Eles se encontram em lugares muito seletos, de alta classe, às vezes em antigas residências aristocráticas ou em hotéis de luxo. Os homens mais velhos fumam charutos, bebem vinho tinto caro e comem bem. É um mundo paralelo cujos habitantes querem desafiar o mundo moderno.

Spiegel: E o que eles discutem?

Berger: Eles falam sobre uma suposta conspiração global judaica ou sobre como eles mantêm os emancipadores, maçons e gays fora da igreja. Durante muitos anos, eram feitas “reuniões de cavalheiros” em Düsseldorf, organizadas por um consultor de impostos. Elas se tornaram um foco cada vez maior da rede católica de direita. Em uma das reuniões, que eram regularmente visitadas por altos clérigos, o homem sentado ao meu lado, um professor universitário aposentado, estava reclamando das paradas gay na Rua Christopher (na Alemanha): “Em vez de ficar num canto, envergonhados de si mesmos e trancados, eles se comportam como porcos enlouquecidos.”

Spiegel: Por que você não virou as costas para a igreja naquele momento?

Berger: Muitos gays são atraídos pelas hierarquias do mundo masculino dos rituais católicos. Entre os clérigos, descobri comportamentos extremamente afeminados do tipo que eu costumava ver em alguns lugares gays. Eles atribuem nomes femininos uns aos outros e dão muita importância às batinas de várias cores. Basta pensar nos apelidos que o bispo Walter Mixa (que recentemente renunciou em meio a acusações de violência e irregularidades financeiras) e seu amigo diretor escolar deram um ao outro: “Hasi”, ou “coelhinho”, e “Monsi”, apelido para monsenhor.

Spiegel: Você tem a impressão de que sua homossexualidade pode ter beneficiado sua carreira?

Berger: Nos círculos da igreja, eu percebia através de olhares inequívocos, abraços, carícias nos braços e apertos de mão excessivamente longos que havia gente que ia além de gostar muito do meu trabalho. O fato de que muitos bispos tinham tendências homossexuais com certeza os deixou mais inclinados a me ajudarem a conseguir posições.

Spiegel: E esses homens não eram homofóbicos?

Berger: A contradição entre uma inclinação homossexual evidente e uma declaração homofóbica é uma das formas com as quais as pessoas na igreja lidam com sua própria orientação, normalmente oprimida.

Spiegel: Você precisa nos explicar isso.

Berger: Evidentemente aqueles que sucumbem a seus desejos são rejeitados veementemente por aqueles que oprimem dolorosamente essas tendências em si mesmos. Ao longo de minha cooperação próxima com os clérigos, uma coisa que por muito tempo eu havia negado se tornou clara para mim: a homofobia mais dura da Igreja Católica vem de clérigos homófilos que oprimem desesperadamente sua sexualidade.

“Espero que a igreja finalmente enfrente a questão da homofobia”

Spiegel: Você sentiu essa pressão?

Berger: Eu publicava a revista “Theological Issues” e era chamado pelos patrocinadores toda vez que uma visão levemente liberal era adotada. Pessoas da Opus Dei sempre estavam lá para observar. Elas diziam que não era permitido escrever “parceiro de vida”, em vez disso, deveríamos escrever “parceiro de fornicação”. A “homossexualidade” era um termo neutro demais, eles diziam. Era preciso se referir a ela como “fornicação não natural”.

Spiegel: Por fim, o que fez com que você saísse?

Berger: A aparição do bispo de Essen, Franz-Josef Overbeck, no programa de Anne Will (um importante talk show político transmitido nas noites de domingo pela rede de televisão pública alemã ARD), quando ele descreveu a homossexualidade como um pecado não natural durante um debate sobre abuso sexual.

Spiegel: Isso deixou claro para você que havia ficado na igreja por tempo demais?

Berger: Em vez de defender meus direitos e os de meu parceiro, eu apoiava grupos antidemocráticos e antiliberais que lutavam contra esses direitos e nos quais algumas pessoas sonham com um Estado católico fundamentalista ou convocam seriamente uma jihad católica. Eu entrei nessa brincadeira com fogo e fiquei ingenuamente horrorizado quando a casa inteira ficou em chamas. Eu me arrependo disso.

Spiegel: Parece que seu livro é uma confissão. Mas seus antigos colegas não estão preparados para o absolver.

Berger: Um teólogo de renome, leal ao papa, deixou isso claro: ele disse que eu tive a oportunidade de sair discretamente de “cena”. Ofereceram-me a chance de continuar com essa hipocrisia e continuar subindo na carreira. Como eu não queria fazer parte dessa “administração de crise” eclesiástica, fui acusado de “buscar o reconhecimento público sem pudores”.

Spiegel: Que tipo de impacto você espera que o livro tenha?

Berger: Espero que a igreja finalmente enfrente a questão da homofobia. Ela precisa reconhecer que uma grande parte dos clérigos católicos e aspirantes a padres na Europa e Estados Unidos são homossexuais.

Spiegel: Pode-se estender suas experiências com grupos de direita periféricos à toda a igreja?

Berger: Desde a reabilitação dos Irmãos Pios com um homem que nega o Holocausto entre seus líderes, ficou evidente quanta influência os círculos conservadores extremos conquistaram em poucos anos. Os pontos de vista que costumavam ser compartilhados discretamente nas noites de cavalheiros ou nas conferências editoriais de jornais e revistas agora são declarados como parte da doutrina oficial da Igreja Católica por clérigos importantes.

Spiegel: Onde você acha que isso vai parar?

Berger: O medo do mundo, de uma sociedade civil indulgente e sem deus, da qual a Igreja Católica quer se proteger dentro de um forte, levará ao isolamento. Não há mais muitos sinais do espírito aberto, da sensação de renovação que emanou do Segundo Conselho do Vaticano. Para defender a si mesmo, o Vaticano está se fiando cada vez mais nos grupos reacionários. Ele está se unindo com evangelistas, fundamentalistas da Bíblia e forças extremamente reacionárias. Mas um mundo fundamentalista paralelo transformará a igreja do povo numa seita.

Fonte: Der Spiegel

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